A Mulher de César – Uma jornada por contos, poesias e a liberdade criativa
Obra Literária
A Mulher de César – Uma jornada por contos, poesias e a liberdade criativa
6 de dezembro de 2025 0
Meu livro de contos e poesias, “A mulher de César”, já está disponível para compra neste link: https://www.amazon.com.br/dp/B0FWKR346J.  Como é impresso nos Estados Unidos, o preço do impresso está bem salgado, mas se você entrar em contato comigo por aqui ou pelo e-mail fabriciomuller60@gmail.com eu consigo mandar uma cópia para você pelo preço de custo, 70 reais. Quem quiser ler na versão Kindle pode comprar por R$ 24,99 neste link. O prefácio do livro, abaixo, entrega bastante sobre o conteúdo, e já postei alguns textos dele aqui. Não digam que não foram avisados. *** Chamem de mania (ou TOC), mas por um longo tempo minha obra literária – fora o que escrevo no site fabriciomuller.com.br, composto de comentários sobre literatura, música, cinema e outros assuntos – tinha textos de aproximadamente cinquenta páginas no formato A4. Assim foram compostos minha obra de estreia, “Um amor como nenhum outro”, de 2017 (Schoba); as quatro histórias de “O verão de 54 (novelas)”, de 2019 (Artêra); e os três livros que compõem “Rua Paraíba” (Café do Escritor), de 2020. Uma mania (ou TOC) também presente era o objetivo de escrever histórias com estilos muito diferentes entre si: “Verão de 54 (novelas)” tem uma história em metalinguagem (“O Verão de 54”), um policial em formato de diálogo (“Morrissey”), uma história convencional (“Conversão”) e uma história para adolescentes (“Sorry”). Enquanto eu escrevia as histórias de “O verão de 54 (novelas)”, e no mesmo formato de cinquenta páginas em A4, também terminei as versões iniciais de um livro de poesias (“Sempre”), uma história de delírio metafísico-literário (“deus um delírio” – para fins de precisão, é importante dizer que foi o único em que não consegui chegar nem perto das cinquenta páginas) e uma novela erótica (“Marina”). Minha ideia inicial era publicar os três livros – cujas versões finais estão nesta coletânea – separadamente, já que, para mim, não combinavam com “O verão de 54 (novelas)”. A mania (ou TOC) acabou quando vi uma entrevista com João Ubaldo Ribeiro, que disse – cito de memória – que tinha escrito “Viva o Povo Brasileiro” para provar a todos que conseguia fazer um romance enorme, como os alemães. Resolvi imitá-lo, e assim surgiu “3040”, com cerca de 450 páginas, já publicado, livro que teve a mentoria da grande Juliana Frank. À medida que a longa escrita de “3040” transcorria, e como a mania (ou TOC) das cinquenta páginas A4 já tinha terminado, pensei em escrever um livro de contos. Eu já tinha um conto, “A mulher de César”, publicado numa coletânea (“Ser: Antologia Emcontos”, da EntreCapas, lançada em 2019), coordenada pelo grande Robertson Frizero, para quem eu tinha escrito alguns microcontos num grupo de literatura no WhatsApp – que são a maioria dos contos muito curtos desta coletânea. Tinha também o já citado “Marina” (ainda não pensava em incluir “Sempre” e “deus um delírio”, que não são contos). Enfim, conversei com a Juliana Frank, que me ajudou muito nos demais contos presentes aqui, principalmente me incentivando a incluir elementos fantásticos em histórias onde eles não ocorriam. Ela me ajudou também a diminuir de maneira significativa o número de páginas de “Marina”. A coletânea ficou pronta alguns anos atrás. Há poucos dias, resolvi finalmente incluir “Sempre” e “deus um delírio”, já que a coletânea já é estranha o bastante – duas outras histórias estranhas não fariam assim tanta diferença. Pela temática “herege”, pelo erotismo e pela esquisitice generalizada, muitas histórias aqui poderão assustar quem me conhece. Afinal de contas, sou um tranquilo engenheiro civil – profissão da qual retiro meu sustento – abstêmio, católico praticante, casado com a mesma mulher há quase 35 anos e pai de uma psicóloga de sucesso. A única “esquisitice visível” na minha vida é escrever textos mais ou menos convencionais sobre literatura, música, cinema, história e outros assuntos no meu site. Mas gosto de pensar que minha literatura não tem nenhuma amarra, seja moral, religiosa ou política. Se não for assim, não tem graça. Pelo menos, não para mim. *** Se você quiser receber este e outros textos meus semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail. Imagem que acompanha o texto obtida no Gemini.
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Resenha de 2006 dos romances de Diogo Mainardi e a ironia de seu retorno às narrativas mais íntimas
Literatura
Resenha de 2006 dos romances de Diogo Mainardi e a ironia de seu retorno às narrativas mais íntimas
30 de novembro de 2025 0
Em 2006, ao longo de quase um ano inteiro, escrevi resenhas para o suplemento dominical do jornal O Estado do Paraná. Um dos textos que mais me marcaram foi sobre a obra ficcional do famoso jornalista Diogo Mainardi. Já na época – cito de memória – ele havia declarado que não escreveria mais ficção. Lembro-me de algumas declarações dele de que não tinha nenhum talento metafísico, que não conseguia imaginar o mundo fora do estritamente material – e sua ficção, “sem nenhuma profundidade psicológica”, era uma prova disso. Lembro que gostei demais dos seus romances, e esta “falta de profundidade” acabou criando histórias absurdas, esquisitas e divertidas. De lá para cá, ele realmente não escreveu mais ficção, e acabei não lendo nenhum dos seus livros posteriores. No entanto, tenho interesse em ler os mais recentes, baseados em sua vida pessoal, “A Queda: As Memórias de um Pai em 424 Passos” e “Meus Mortos: Um Autorretrato”. O abandono da sátira anárquica para narrativas de memórias profundas sugere que ele encontrou, na própria vida e na tragédia familiar, o material não-metafísico que precisava para criar obras de grande impacto (como o sucesso de A Queda demonstrou). Segue, abaixo, o texto revisado que escrevi sobre os quatro livros de ficção de Diogo Mainardi para o Suplemento Dominical do jornal O Estado do Paraná em 2006. *** Diogo Mainardi é, provavelmente, o mais polêmico jornalista brasileiro da atualidade. Dono de uma coluna semanal na revista Veja e participante fixo do programa de debates Manhattan Connection, da emissora de TV a cabo GNT, ele não costuma poupar políticos, colegas de profissão e brasileiros em geral de seus ácidos comentários. Além de jornalista, Mainardi também é (ou foi, já que ele declarou que sua experiência nesta área terminou) romancista, tendo publicado quatro livros do gênero, que foram recentemente reeditados pela Record. Malthus (1989) O primeiro romance de Mainardi, Malthus (95 páginas), recebeu o Prêmio Jabuti de 1990. Segundo o prefácio de Ivan Lessa, a obra é inspirada na tese do economista Thomas Robert Malthus, que sustentava que “a população aumenta mais rapidamente do que o suprimento de alimentos e se limita apenas pela guerra, pobreza e vício.” Este aumento “em progressão geométrica” da população mundial serviu de inspiração para que Mainardi criasse uma história absurda e engraçadíssima. Segundo o personagem principal do romance, um sujeito chamado Loyola y Loyola, “todas as pessoas perturbavam e eram perturbadas. A culpa pelos infortúnios era de quem eventualmente estivesse por perto, e sempre haveria alguém por perto.” Logo no primeiro parágrafo de Malthus se pode ter uma ideia da loucura que virá a seguir: conta-se que Loyola y Loyola foi morar em uma casa que não é a sua, mas sim na de uma tal Sra. Robalinho. Diversos outros personagens, como “magistrados” e “oficiais do exército”, também se alojam no local. As aventuras de Loyola y Loyola não param por aí. Ele e a multidão vão morar num navio, onde a filha do comandante se casa com o “herói” do livro. Posteriormente, esta é engolida pela Sra. Robalinho, que já tinha comido diversos objetos. Assim, de absurdo em absurdo, Malthus vai se desenvolvendo de maneira sempre surpreendente, para o prazer do leitor. Arquipélago (1992) No segundo romance de Mainardi, Arquipélago (127 páginas), o personagem principal conta a história em primeira pessoa e é vítima de uma enchente monstruosa – quase um dilúvio – causada pelo rompimento da barragem de Ilha Solteira. A cidade de Pedranápolis fica quase totalmente submersa. O personagem, junto a alguns desabrigados, sobrevive na abóbada de uma igreja local. A situação no local é estranhíssima: o narrador passa horas e horas filosofando sobre todo e qualquer assunto. Os outros desabrigados, que no início estranham esse costume, logo passam a admirá-lo. Em pouco tempo, eles elegem o narrador líder do grupo e se sentem satisfeitos em não serem mais do que “instrumentos de reflexão filosófica” para ele. Com diversas passagens e diálogos memoráveis, Arquipélago, apesar de ser também uma narrativa satírica e eivada de absurdos, tem um estilo menos anárquico e mais elaborado do que o romance anterior. Polígono das Secas (1995) O pior dos quatro romances de Diogo Mainardi é o terceiro, Polígono das Secas (127 páginas). O livro conta a história do “Untor“, sujeito tenebroso que sai espalhando um unguento venenoso, que transmite a peste, pelo sertão nordestino e que, com isso, acaba matando centenas de pessoas. O livro, ranzinza e sem humor, apesar da forte atmosfera assustadora, peca pela falta de sutileza, resumindo-se a um “romance de tese“. A tese aqui é para lá de questionável: para Mainardi, a tradição cultural do sertão nordestino não vale nada, é apenas um pastiche de tradições medievais misturadas a muita ignorância, preconceito e moralismo. Contra o Brasil (1998) O último romance escrito por Mainardi chama-se Contra o Brasil (236 páginas) e conta a história de Pimenta Bueno, um sujeito que não trabalha e cuja única atividade é ficar lendo — de preferência textos falando mal do Brasil. O personagem principal não tem nenhum caráter. No início do livro, ele herda um cinema abandonado no centro de São Paulo habitado por mendigos, vai até lá e põe fogo no local com seus moradores dentro. Depois, tenta transformar os já aculturados índios Nambiquara em “autênticos índios”, nem que para isso estes tenham que passar fome. Em grande parte das páginas do romance existem citações (declamadas sempre por Pimenta Bueno) literárias ou históricas falando mal do Brasil, incluindo frases de personalidades do porte de Camus, Darwin e Evelyn Waugh. De certa forma, assim como Polígono das Secas, este também é um “romance de tese”, e a tese aqui é a de que o Brasil não presta para nada. Só que, ao contrário daquele, em Contra o Brasil Diogo Mainardi não parece levar sua teoria muito a sério. Afinal de contas, neste romance extremamente divertido, o personagem principal é um sujeito tão sem qualidades que suas críticas acabam perdendo bastante do seu peso. *** Imagem que acompanha o texto: Divulgação –
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“Go By”, de Elliott Smith
Música
“Go By”, de Elliott Smith
24 de novembro de 2025 0
Sim, eu ouvi tanto Smiths e Madredeus (minha filha se chama Teresa por causa da vocalista desta banda) que cansei, temo, para sempre. Então, quando realmente GOSTO MUITO de alguma coisa, dou uma parada de alguns anos, como comentei recentemente sobre o Neurosis. Mas, contudo, todavia, não consigo ficar muito tempo sem ouvir Elliott Smith – o que acabo fazendo é colocar a playlist oficial do YouTube Music ou do Spotify em outra playlist maior, para ouvir no carro (em playlists que variam com o tempo, mas que são quase sempre chamadas, com grande originalidade, de “carro”). Acontece que nas playlists oficiais de Elliott Smith não consta uma música chamada “Go By”, que acabei ouvindo novamente hoje, por ter colocado mais coisas do cantor na minha playlist “carro” atual. Enfim, o pior texto que escrevi na vida foi um que cometi sobre o Elliott Smith, não lembro onde, e nem vou procurar – e o texto era ruim porque eu não consegui ser minimamente racional para falar do meu amor gigantesco pelas músicas do cantor americano falecido em 2003. E “Go By” era provavelmente a canção que eu mais me desequilibrei para comentar naquele texto horrível. Mas a música, Senhor meu, não tem nada a ver com minha falta de modos para falar dela. A cada vez que a ouço, fico me perguntando como alguém conseguiu compor uma coisa tão linda. E vou parar antes de fazer vergonha de novo.
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O grupo terrorista Baader-Meinhof: 2. “Baader-Meinhof Blues”, da banda Legião Urbana
História, Música
O grupo terrorista Baader-Meinhof: 2. “Baader-Meinhof Blues”, da banda Legião Urbana
22 de novembro de 2025 0
Renato Russo, o vocalista da banda Legião Urbana, provavelmente gostava muito de “Baader-Meinhof Blues”. A música foi lançada em seu álbum homônimo de estreia (1985), no disco ao vivo “Música p/Acampamentos” (1992) e no “Acústico MTV” (gravado em 1992, lançado em 1999). Julliany Mucury, autora do livro “Renato, o Russo”, considera “Baader-Meinhof Blues” a sua música preferida da banda. Além disso, o Charlie Brown Jr. gravou uma versão da música no seu álbum “Bocas Ordinárias”, de 2002. A canção tem algumas frases de efeito que, compreensivelmente, são marcantes para os fãs: “A violência é tão fascinante / E nossas vidas são tão normais”, “Não estatize meus sentimentos / Pra seu governo, o meu estado / É independente” e “Já estou cheio de me sentir vazio / Meu corpo é quente e estou sentindo frio / Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber / Afinal, amar ao próximo é tão démodé”. Não há nenhuma menção direta ao grupo terrorista alemão na letra, mas frases como “a violência é tão fascinante” e “amar ao próximo é tão démodé” são claramente relacionadas ao Baader-Meinhof. Segundo Julliany Mucury, a banda teve que se explicar bastante em relação ao título da música: “vocês imaginam, numa pós-ditadura, você lançar uma canção com esse título?”. Contudo, parece claro que a canção não era uma apologia ao terror. O próprio Renato Russo explica o significado de “Baader-Meinhof Blues” num áudio encontrado no YouTube, no qual ele declara que a canção “diz exatamente a mesma coisa que ‘Geração Coca-Cola’”. O nome foi escolhido porque se alguém do Grupo Baader-Meinhof passasse por uma situação parecida com a descrita naquela canção, sentiria o mesmo tipo de blues (melancolia/vazio): “a violência é tão fascinante, as nossas vidas são tão normais”. No mesmo áudio, ele explicou que o final da música, que usa o termo de estado e governo, foi uma escolha intencional para ser um final inteligente e que “pegasse” com o público, mesmo que o significado fosse, na verdade, muito mais abstrato e pessoal. Em outras palavras, em “Baader-Meinhof Blues”, Renato Russo projetou nos terroristas alemães de uma década antes do lançamento da música as mesmas sensações de tédio, vazio e falta de sentido de boa parte da juventude brasileira no final do período da Ditadura Militar, bem descritas em suas canções, como as duas citadas acima e seu grande sucesso “Será”. Mas, se me permitem uma opinião, Andreas Baader e Gudrun Ensslin, os líderes do Baader-Meinhof, com sua coragem e radicalismo, não tinham absolutamente nada a ver com as preocupações de Renato Russo. *** Imagem acima obtida no Google Gemini. Se você estiver interessado em receber meus textos semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.
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O grupo terrorista Baader-Meinhof: 1. Introdução
História
O grupo terrorista Baader-Meinhof: 1. Introdução
15 de novembro de 2025 0
Para uma criança que acompanhava o noticiário nos anos 1970, o nome Baader-Meinhof tinha algo de assustador e algo de charmoso. Assustador porque era um grupo terrorista alemão de extrema-esquerda, e charmoso porque, pelo menos para mim, remetia a um país desenvolvido, a Alemanha — de onde veio, aliás, meu sobrenome (tão popular por lá quanto Silva por aqui). Embora eu tenha acompanhado o sequestro e assassinato do ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro pelo grupo terrorista Brigadas Vermelhas, a força do Baader-Meinhof estava numa certa violência e ameaça difusa, já que seus atos terroristas – pelo menos para a criança que eu era – eram muito menos claros do que o ocorrido na Itália. Um aspecto irônico desta história é que “Baader-Meinhof” não era o nome que o grupo terrorista aplicava a si mesmo, mas foi dado pela imprensa, depois de uma fuga espetacular ocorrida em 14 de maio de 1970. Naquela ocasião, o líder do grupo, Andreas Baader, foi resgatado da custódia policial na biblioteca de um instituto em Berlim, pulando pela janela junto com outros ativistas e a jornalista Ulrike Meinhof — que havia usado o pretexto de uma entrevista para facilitar o resgate, executado por cúmplices armados. Se fosse batizar o grupo pelo nome de seus líderes, ele deveria se chamar “Baader-Ensslin” — e me refiro aqui à namorada de Andreas Baader, Gudrun Ensslin, que era praticamente tão importante nas decisões quanto ele. De todo modo, o grupo se autodenominava RAF (Rote Armee Fraktion, ou seja, Fração do Exército Vermelho), uma provável provocação com o nome da Real Força Aérea Britânica, que tem o mesmo acrônimo (Royal Air Force). O Baader-Meinhof fez uma série de incêndios e explosões em prédios privados e públicos, roubos a banco e sequestros, e eram considerados tão perigosos – já que normalmente recebiam a tiros os policiais que tentavam prendê-los – que foi construído um prédio novo dentro da Prisão de Stammheim com um tribunal no andar térreo e uma unidade de detenção de alta segurança (células) nos andares superiores, apenas para o julgamento dos terroristas. O grupo foi tão comentado pelo mundo todo que até um viés cognitivo – a ilusão de frequência – no qual uma pessoa percebe um conceito, palavra ou produto específico com mais frequência após ter tomado conhecimento dele recentemente, é chamado de “Fenômeno Baader-Meinhof”. O termo foi cunhado em 1994 por um leitor de um jornal em St. Paul, Minnesota (EUA), que escreveu uma carta dizendo que havia lido sobre o Grupo Baader-Meinhof e, logo em seguida, o viu mencionado em outro lugar. Outros leitores compartilharam experiências semelhantes, e o nome “pegou” para descrever a Ilusão de Frequência. Mesmo a banda Legião Urbana tem uma música chamada “Baader-Meinhof Blues”, o que ajuda a mostrar como o nome do grupo ficou gravado no inconsciente coletivo. *** O Baader-Meinhof, assim como o povo etrusco, o Império Wari, o Período Permiano, os Papas de Avignon e São Luís de Tolosa, é um dos meus interesses estranhos. Pretendo escrever aqui ainda alguns textos sobre o grupo terrorista alemão – o próximo, já engatilhado, é sobre a supracitada música “Baader-Meinhof Blues”. *** (Foto que acompanha o texto: Andreas Baader e Gudrun Ensslin. Crédito da foto: 31.out.1968/Associated Press, obtida na Folha de São Paulo. Se você estiver interessado em receber meus textos semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.)
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O Grande Jogo e a Galinha dos Ovos de Ouro
História
O Grande Jogo e a Galinha dos Ovos de Ouro
9 de novembro de 2025 0
No ano (2006) em que escrevi textos semanais sobre literatura (e um pouco de música) no Caderno Dominical do extinto jornal O Estado do Paraná, graças a meu grande amigo Abonico Ricardo Smith, acabei tendo contato com livros que dificilmente leria em condições “normais”. De alguns deles eu gostei muito, como “Cidade dos Anjos Caindo“ (comentado aqui na semana passada) e os dois citados abaixo, na reprodução revisada da resenha que publiquei no jornal na época. O livro sobre caviar, principalmente, me descortinou todo um universo que eu não tinha nem ideia que existia. Recomendo fortemente, até hoje, mesmo que muita coisa deva estar desatualizada. Não é necessário ser fã das histórias de James Bond para se sentir fascinado com “O grande inimigo – a história secreta do confronto final entre a CIA e a KGB“, escrito pelo ex-agente da CIA Milt Bearden e pelo jornalista James Risen (Objetiva, 569 páginas), livro que narra a guerra de espionagem entre os Estados Unidos e a União Soviética, no final da existência desta última, entre os anos de 1985 e 1991. Bearden era chefe da Divisão Soviética e do Leste Europeu quando da Queda do Muro de Berlim, em 1989 , e sua participação no livro — contando inclusive os fatos que ele vivenciou em primeira pessoa — ajuda a tornar “O grande inimigo“ um documento histórico de grande importância. O livro analisa três pontos principais: O primeiro é a perda, pela CIA, de diversos espiões que ela controlava na URSS. O segundo é a ajuda que os americanos deram aos guerrilheiros que lutavam contra a ocupação soviética no Afeganistão — onde ficamos sabendo em detalhes que realmente a CIA armou, entre muitos outros, aqueles que fundariam o regime talibã anos mais tarde. E, finalmente, a queda dos regimes comunistas do Leste Europeu, que pegou a CIA tão de surpresa que seus agentes tinham que apelar para a CNN para saber das novidades. Dada a importância do primeiro destes pontos no livro, vamos nos estender um pouco mais sobre ele. Se, em décadas anteriores à década de 80, havia um certo equilíbrio na guerra de espionagem entre URSS e EUA, a partir de 1985 a grande quantidade de perdas de agentes duplos russos que trabalhavam em segredo para os americanos começou a fazer o jogo pender para o lado soviético. Alguns agentes ocidentais de patente razoavelmente alta começaram a delatar à KGB quem eram boa parte dos russos traidores. Estas famosas “perdas dos anos 80“, como não poderia deixar de ser, prejudicaram imensamente o trabalho da CIA. Os diversos capítulos que tratam deste assunto são, de longe, a parte mais fascinante do livro : encontros secretos em lugares ermos, malas de dinheiro entregues a agentes duplos dos dois lados, condenações de traidores à morte, todo o tipo de grampo telefônico, espionagem militar, impressionantes códigos de despistamento, e até mesmo o canal secreto de comunicações entre a KGB e a CIA, entre muitos outros detalhes do jogo de espionagem, são mostrados com clareza e brilhantismo. “O grande inimigo“ é muito melhor do que qualquer romance de espionagem: senão por outro motivo, é porque aqui os fatos aconteceram realmente. Além de tudo isto, transparece no livro o grande respeito — e, até mesmo, admiração — que os agentes da CIA tinham para com seus oponentes da KGB. Isto, somado à franqueza com que são mostrados os pontos fracos da Defesa americana, torna o livro bastante verossímil. A extinta União Soviética também tem papel preponderante no ótimo “Caviar – a estranha história e o futuro incerto da iguaria mais cobiçada do mundo“, da jornalista americana Inga Saffron (Intrínseca, 318 páginas). O livro é um completo painel sobre o caviar: Analisa, entre outros assuntos, a história do seu consumo pelos humanos. Descreve as características que fazem com que o esturjão, o peixe de cujas ovas se faz a iguaria, seja uma espécie de fóssil vivo, já que ele pouco se modificou nos últimos 250 milhões de anos (segundo Saffron, por todas as normas usuais da evolução ele já deveria estar extinto). Menciona os países em que o esturjão foi ou tem sido pescado (em muitos deles o esturjão foi extinto ou está em processo acelerado de extinção). Conta a história das principais empresas que comercializam ou comercializaram o caviar. O assunto tratado com maior profundidade é a história da pesca do esturjão na URSS, o país que era o maior e melhor produtor de caviar do mundo (hoje ultrapassado pelo Irã) — e o que aconteceu com a pesca por lá quando o regime comunista acabou. Segundo Saffron, o rígido sistema político dos tempos do socialismo conseguia controlar a produção do esturjão, preservando a espécie — até mesmo porque era de grande interesse econômico, por parte dos soviéticos, a venda de caviar para o exterior para a obtenção de divisas em moeda forte. Com o final da União Soviética no início dos anos 90, este cenário mudou completamente: desde então, a pesca clandestina indiscriminada diminuiu sensivelmente a quantidade de esturjões que deságuam no Mar Cáspio (região em que se consegue o melhor caviar do mundo), fazendo com que o peixe chegue a estar em perigo de extinção — para as pesquisas do seu livro, inclusive, Ingrid Saffron chegou a visitar os locais de pesca clandestina na Rússia. Somando tudo, “Caviar – a estranha história e o futuro incerto da iguaria mais cobiçada do mundo“ é um livro muitíssimo bem escrito e fascinante — mas é também um alerta: por cobiça, mas também por necessidade, os russos estão matando sua galinha dos ovos de ouro. E a humanidade toda perde com isto, é claro. (Se você estiver interessado em receber meus textos semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail. Imagem que acompanha o texto obtida no Gemini.)
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Neurosis revisitado
Música
Neurosis revisitado
8 de novembro de 2025 0
Fazia tempo que não ouvia Neurosis. Gosto de parar de ouvir as coisas que eu curto para voltar a ter, ops, o “frescor” das primeiras vezes. Só o que eu posso dizer é que não devem existir muitas bandas por aí que fizeram uma sequência com a qualidade de Souls at Zero (1992), Enemy of the Sun (1993), Through Silver in Blood (1996), Times of Grace (1999), A Sun that Never Sets (2001) e The Eye of Every Storm (2004). As notícias sobre o estado atual da banda não são nada animadoras (para “a maior e mais complexa manifestação artística sob a face da terra”), mas, e aqui eu vou chover no molhado, sua música é eterna.
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